Cortar o cabelo é libertador e de alguma forma eu me inspirei em Hana
quando ela corta os cabelos em um dos trechos do livro.
Em um
domingo de tédio, assisti ao filme ganhador de nove Oscars, "O paciente
Inglês."
Pensei que seria só mais um filme, mas quando vi, já tinha me apaixonado
pelo paciente inglês.
Comprei o livro e decolei nessa leitura, sem dúvidas não é um livro
fácil de se ler, o livro ao contrário do filme é contado às avessas, Michael
Ondaatje é uma autor moderno, e as fragmentadas passagens do livro você que tem
que ir encaixando no decorrer da leitura, é preciso entrega do leitor para
adentrar-se nessa obra.
Situados na Itália em uma Villa no final da segunda guerra mundial,
temos Hana a enfermeira, que fica cuidando de um paciente horrivelmente
queimado em um acidente aéreo, enquanto vê todos partirem para destinos
diferentes pós guerra.
Hana se enterra em seus próprios problemas depois de perder o pai, o
namorado e ainda um bebê que estava esperando durante a guerra, e vê o paciente
inglês como uma fuga para si, alguém com quem possa cuidar, ouvir e descobrir
os seus mistérios por traz daquele rosto desfigurado e queimado.
Em seguida chega Caravaggio um velho amigo do pai de Hanna um espião que
teve os polegares cortados quando foi preso, e Kip o sapador e mestre em
desarmar bombas deixada pelos nazistas.
Em um único livro é possível encontrar vários mundos, Hana por sua vez
canadense, Kip um sikh indiano que usava turbante e tinha pele morena, e o
paciente inglês que mais tarde Caravaggio o reconhece e conta a Hana que ele
tinha certeza que o paciente inglês não era inglês e sim um Húngaro chamado
Almásy que trabalhava para alemães durante a segunda guerra.
Entre uma dose de morfina e outra Almásy conta sobre o romance que teve
durante suas expedições com Katharine Clifton, que foi para o deserto
junto com o marido Geoffrey Clifton ainda em clima de lua de mel, mesmo
tendo evitado esse amor, o homem com os cabelos cor de palha e olhos claros, de
alguma forma penetrava o coração da jovem recém casada, um amor doloroso,
proibido e que foi vivido, mesmo tendo sido evitado, não foi possível passar
por algo tão puro, tão doce e tão sutil como o que um sentia pelo outro.
Se amar é pecado os dois pecaram, ela cometeu o adultério, mas amaram
profundamente um ao outro, um amor que chegava a doer.
Katharine, amava Almásy como nunca amou outro homem, como nunca
conseguiu amar Clifton, a ponto de quer ser dona dele, de marcar a sua pele
como uma propriedade, Almásy que não gostava de posse se viu dela, o tempo
inteiro, pensando nela e vivendo para ela.
Em um certo momento eles precisam se afastar e acabar com romance e esse
é o meu trecho preferido de todo o livro, de certa forma achei muito romântico:
Agora não há beijos. Só abraço. Ele se desvencilha
dos braços dela e se afasta, depois se vira. Ela ainda está lá. Ele volta
alguns metros dela, o dedo estendido para frisar uma ideia.
"Só quero que saiba de uma coisa. Ainda não sinto falta você."
(...)
"Mas vai sentir, ela diz."
É um livro repleto de referências, cheio de histórias, pausas, frases
desconectas, permite que o leitor preencha algumas lacunas deixadas de forma
que a história vai fazendo sentindo no decorrer da leitura, o livro que Almásy
carrega com citações de Heródoto é o tempo todo citado no livro, não é um
simples livro é uma bíblia de suas expedições no Cairo, com mapas e anotações
pessoais.
Michael Ondaatje te adentra a história, de forma
que o leitor testemunhe as histórias contadas por cada personagem, como a
solidão de cada um e suas inquietações são trazidas para cada parte nos proporcionando
viver tudo, sem dúvida esse foi uma das minhas melhores leituras nesse ano.
O final do filme e do livro são diferentes, o livro te deixa lacunas,
algo que eu já esperava e não me decepcionei, em certo momento quase no final
do livro temos certa tensão, que fiquei até preocupada com algo terrível que
poderia acontecer.
O romance entre Hana e Kip, os afrescos italianos, as noites de
Caravaggio na janela pensativo, as histórias do paciente inglês, as músicas
citadas e dançadas pelos personagens, todas presentes de uma forma linear e
fantástica, faz com que o livro seja algo diferente de tudo que já tinha lido.
A cada capitulo pesquisava as referências literárias, lia o livro
escutando as músicas citadas, e fui capaz de me apaixonar ainda mais.
O cinema é a uma das maiores obras primas do homem, ele te faz ver
exatamente aquilo que você imagina, o filme não decepcionada e vai fundo no
romance de Almásy e Katherine, deixando até um pouco de lado a fantástica história
de Kip, e de como desarmar uma bomba é mais difícil do que se imagina.
Se alguém tinha dúvida de que todo mundo sabia do romance de Katharine e
Almásy menos o marido Geoffrey, ele mostra que um marido traído e furioso é
capaz de coisas terríveis, e assim termina o romance, de forma trágica, com a
morte de Geoffrey tendo causado a queda do avião com Katherine abordo, frente a
Almásy para que ele sofra com a perda da amante, mas ela fica apenas ferida e é
levada para um caverna, mas também não resiste, e por fim Almásy também fica à
beira da morte e todo desfigurado.
A relação da enfermeira com o homem queimado é revelado no final do
livro, ela revela em uma carta para madrasta que o pai havia sido morto,
queimado, como Almásy durante a guerra, esse é o refugo de Hana com o paciente inglês,
cuidar dele como poderia ter feito com o próprio pai.
Tentei ser o mais transparente e fiel possível ao escrever essa resenha,
como me apaixonei muito por Almásy, é possível que eu tenha puxado mais para o
lado dele durante a escrita, mas quero deixar claro que é um livro difícil de
se ler, um livro para ler com calma e atenção.
Recomendo a leitura e também a assistir ao filme, mas vou deixar bem
claro que é possível que você odeie profundamente, ou se apaixone perdidamente
assim como eu, é uma história simples, mas com personagens incríveis.
Só não me pergunte porque me apaixonei tanto assim.
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O paciente inglês |
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O paciente inglês |
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Caravaggio |
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Kip e Hana |
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Kip |
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Almásy e Katharine
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Hana |
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Almásy e Katharine
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Almásy - O paciente inglês
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Katharine
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Almásy
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Almásy e Katharine
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Almásy
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Almásy e Katharine
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Almásy
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Poster do filme |